Wednesday, October 5, 2011

Happy birthday, Tocantins!

Hoje, data do aniversário de 23 anos da criação do Tocantins, um amigo de lá me escreve pedindo esclarecimentos sobre o slogan oficial do Estado, Co Yvy Ore Retama, geralmente traduzido como "esta terra é nossa" (em Tupi Antigo, a língua mais falada na costa do Brasil nos primeiros séculos da colonização). Não sou tupinista nem nada, mas, graças à companhia  do meu (quase sempre) infalível Pequeno Vocabulário Tupi-Português, do Pe. Lemos Barbosa (1967, Rio: Livraria São José), me arrisquei a dar meus palpites.

O significado seria, grosso modo, este mesmo, mas com alguns detalhes dignos de nota. Yvy é 'terra' num sentido mais físico ('chão'), enquanto r-etam-a (o r- é um prefixo e o -a é um sufixo) é 'terra' num sentido mais de 'morada', 'torrão (natal)', 'pátria', 'residência', 'país'. Tanto que, enquanto r-etam-a sempre ocorre possuído, isto não ocorre com yvy. Então, em uma tradução mais poética (e que captura melhor a diferença no Tupi), teríamos "este chão é nossa pátria". Curioso que, pra um Estado novinho em folha e com tanta tribo viva, seguiu-se a velha tradição de homenagear uma língua extinta, de um povo que, até onde eu saiba, nunca viveu em território tocantinense.

Mas há ainda uma curiosidade para a qual eu nunca tinha atentado. Como várias outras línguas indígenas, o Tupi Antigo tinha dois "nós" -- um inclusivo (que inclui o interlocutor) e outro exclusivo. A forma inclusiva é nhande; curiosamente, a forma escolhida para o brasão do Tocantins é a exclusiva, ore.  Eu sempre fiquei curioso para saber de quem foi a idéia do "co yvy ore retama", e se eles teriam consultado algum especialista. Eu acho que, para um estado novo e hospitaleiro, a Canaã de tanta gente sofrida, o inclusivo deveria ter sido a forma escolhida. A menos que Siqueira Campos estivesse tentando transmitir uma mensagem tipicamente latifundiária: "esta terra é nossa (minha e dos meus apaniguados) e ninguém tasca".

Digo isto com um tom de brincadeira, claro, porque duvido que os políticos envolvidos dessem a mínima para tais questões semânticas. Mas não deixa de ser curioso...