Em Cartas do Sertão, que reúne parte de sua correspondência com Carlos Estêvão de Oliveira, Nimuendaju vez ou outra menciona aquela que é, talvez, a personagem menos conhecida de sua biografia: "Minha mulher vai bem e lhe manda lembranças." Para alguns, esta informação pode ser surpreendente. Seus obituários, concentrados em sua produção científica e militância indigenista, não mencionam uma viúva; quem estuda a obra de Curt Nimuendaju acaba ficando com a impressão de que ele morreu solteirão.
Contribuindo para uma visão mais pessoal de Nimuendaju, o jornalista paraense Lúcio Flávio Pinto, em artigo publicado recentemente em seu excelente Jornal Pessoal, nos oferece alguns detalhes de primeira mão sobre Jovelina, a mulher do grande etnógrafo:
Jovelina morreu anônima num dos pavilhões da Santa Casa de Misericórdia de Belém no dia 2 de novembro de 1972. Deixou de ser anônima apenas em função do sobrenome: Nimuendaju. Incorporou-o ao casar com Curt Unkel, que, por sua vez, se notabilizou ao anexar ao seu nome alemão o Nimuendaju (”aquele que criou seu próprio caminho”) dos índios apopokawa-guarani [Pinto quis dizer "Apapokuva-Guarani"], do interior de São Paulo. Esse foi o primeiro dos 30 grupos indígenas aos quais dedicou quase 40 anos de sua vida, desde que chegou ao país adotivo, em 1903, com apenas 20 anos. Mesmo sem ter formação acadêmica em antropologia, Nimuendaju realizou estudos com alto rigor científico, com ênfase sobre as populações de língua jê.
O artigo pode ser lido integralmente no website do Jornal Pessoal (requer-se cadastramento). Aliás, para aqueles que, como eu, admiram a inteligência e independência do jornalismo de Lúcio Flávio Pinto, o fato de que seus escritos estão agora disponíveis online é uma excelente notícia.
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